Saturday, June 09, 2007

DAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O MORTO

DAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O MORTO*

Estás morto na tarde
sob véus de cera e velas
sob tua própria sombra.

Estás morto na noite
com teus sonhos e caminhos
sob paredes de alfombra.

Estás morto no leito
com tuas pedras e cristais
sob séculos de insônia.

Estás como tudo que é inerte
já não cantas nem refletes
a vida em que te agarraste.

Estás na envergadura das hastes
fuga de sons e relâmpagos
nada mais claro que a face

que tens curva sobre os ombros
nada mais oco que o prisma
sobre o qual inerte abismas.

Estás morto na tarde
no súbito riso que velas
mais morto te enovelas
em torno da solidão.

Do que houvera de arreios
posto sobre tua loucura
transformaram em veias
para te mascarar a amargura.

Estás morto no dia
como o que na extensão se anula
e é óbvio, ainda giras,
no vazio que em ti perdura.

*Poema de Edivaldo de Jesus Teixeira, do livro "O homem deserto sob o sol" (no prelo).

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